Todo parecer desleal é, tão somente, vontade de ser melhor. Quando alguém insiste em tentar nos dar conselhos com base em especulações sobre nossas vidas, esse ato glorioso, torna-se uma comédia grosseira. Eloquentes, mas geralmente sem a hermenêutica necessária, nos tiram as vírgulas e nos cobrem de interrogações, com as quais, nem mesmo cabe a eles as respostas. Acho até covardia falar sobre o que não se sabe, mas trazendo esse contexto para mim, se falasse apenas sobre o que domino, este blog estaria lotado de postagens sobre eletrônica e guitarra. Antes covarde, que medíocre! Passam sobre nós conclusões tão superficiais quanto suas vidas e esquecem que na multidão de palavras, a chance de haver um emaranhado de imbecilidades é bem maior (mas não vou me ater à estatística, nem a informações exatas, sou péssimo nisso). Sem tempo a perder - Poucos são os que sabem que é necessário filtrar o conteúdo dos amigos, colegas e familiares. Não porque somos melhores, mas a busca por crescimento tem melhor resultado no filtrar calado, do que no falar atropelado.
Não busco a volta por cima. Não aceito pelo nome. Não concordo com essas palavras. Não remonto quebra-cabeças. Não nego a indiferença. Não amanheço novas idéias. Não recorro à contraceptivos. Não abuso da boa vontade. Não estou à procura de nada. Não estimo cacos de vidro. Não me preocupo com o preço da gasolina. Não durmo o suficiente. Não quero merecer carinho. Não tenho medo da banalidade. Não vivo sonhos alheios. Não sonho coisas minhas. Não quero escrever. Não estou bem!
Hoje eu sei: pensava ser maduro há tempos atrás, sem o ser. Mas será que constatarei daqui a dez anos que não sou maduro agora? Creio que madurecer não significa perder o encanto, incrustar-se de lembranças vagas sobre situações melancólicas, pagar as contas, assumir responsabilidades, morar sozinho... mas a capacidade de refletir e tirar conclusões honestas à respeito de si. Entendo que é preciso assumir responsabilidades, guardar lembranças... Mas acho que se desfazer de ilusões é o ato crucial e por fim, ter a consciência limpa. O problema é alcançar essa maturidade (conclusão honesta a respeito de si), quando “nosso mundo está errado; quando o que temos é um catálogo de erros; quando precisamos de carinho, força e cuidado”, e todos, por isso, se afastam. É o tal “mecanismo indiferente” que o Renato Russo nos sugeriu em seu “Livro dos Dias”. A conclusão sincera: tenho me afastado de mim, usado de arrogância medíocre, deixando certezas juvenis para trás e “Perdendo o encanto antes cultivado”. Ando mergulhado por querer numa piscina de solidão, sem saber com o que sonhar. Perdendo o gosto pela leitura, sentindo-me velho, feio, gordo e incapacitado. Agindo de forma intolerante e mesquinha. Vestindo roupas que não me agradam. Concordando com planos que não condizem com o que acredito. E tantas outras coisas... Mas tudo isso com a consciência tranquila, por ter coragem de enumerá-los. Prosseguindo nesse novo caminhar: Espero que, muito em breve, venha um post para o marcador “Das Coisas que Eu Entendo”.
Já foi dito aqui: sou um pesquisador de produções musicais independentes, de boa qualidade e divulgadas na Internet. Quando começo a ficar nervoso por não aguentar mais as músicas que escuto, é fato: preciso pesquisar coisas novas! Não é que em dias assim eu delete tudo e/ou jogue fora minhas coleções, mas fico ansioso para ouvir progressões melódicas diferentes (talvez por ser um músico que aprecia o improviso), letras que tentem sugerir outros temas, ou mesmo com um outro ponto de vista para idéias já compostas antes. Foi com essa minha agonia (no bom sentido), que conheci a banda de rock gaúcha Pública, o mpb do conterrâneo Ditelles Araújo, a simplicidade perfeita da banda TMD, a falta de cerimônia da banda Polara... e por ai vai. Hoje, quando por indicação resolvi pesquisar sobre a Daysleepers (banda sergipana, muito boa por sinal), achei o trabalho de um cara que, a princípio, em caráter de curiosidade, baixei o seu disco. Falo do Daniel Lopes, um antigo parceiro do também cantor e compositor Leoni. Tomei um choque! Escutei logo de cara a música “Mais e Mais Refrões” e as frases iniciais pareciam ter sido compostas para eu ouvi-las ali mesmo, sem tirar nem pôr nenhuma letra. Talvez pela fase de “entressafra” que atravesso. Mas é muito bom sentir as músicas pra si! Você pode reinventar Se transformar Em mil versões Você até trocar O que é real Por ilusões Palavras vêm voando E quando caem Querem se juntar Vão se amontoando até formar Mais e mais refrões Você pode deletar Se incomodar Com as intenções Você pode interceptar Ondas no ar Nas dimensões Palavras vêm voando E quando caem Querem se juntar Vão se relacionando até formar Mais e mais refrões Você pode descartar Se resguardar De alguns verões Mas não pode mais negar Sempre haverá Novas canções Palavras vêm voando E quando caem Querem se juntar Vão se relacionando Até formar Mais e mais refrões [Mais e Mais Refrões – Daniel Lopes]
Não é por uma simples questão de não ser ou não ter um melhor amigo, muito menos por não me emocionar em despedidas. O difícil mesmo é parar e não saber pra onde ir. Queria dominar a arte japonesa do Haikai e escrever sábios textos em apenas três versos, sabendo que o mais profundo desse costume oriental é aplicá-lo na vida e não apenas compor o terceto. Se é difícil aplicar três frases simples às nossas vidas, imagine como seria aplicar alguma dessas crônicas pessoais e intransferíveis, cheias de palavras soltas e ambiguidades morais! Estupidez. Este é o caminho Ninguém mais o percorre Salvo os que retornam daqui Gostei desse outro também: Manhã, cedo Abrem-se os olhos e Vê-se Mas voltemos às palavras menos sábias: quase comprei um novo cachorro hoje. Era um gentilíssimo, manhoso e carente Labrador que avistei de longe, preso em uma pequena gaiola, à venda em um petshop. Não foi o preço, nem a mordida para chamar a minha atenção e nem a insistência da minha avó para ir embora, mas foi algo do tipo: “esse ainda não é o seu Labrador!” Sei lá, vai entender-me! Espero um dia encontrar um melhor amigo que seja meu em verdade, ou um melhor amigo que me empreste dinheiro sem usura. No mais, planejo para 2009 a compra de um cão labrador, de uma nova guitarra Fender e de muitas outras coisas. Acho até que quero pouco... Mas há quem ache que eu não mereço! Acreditem.