terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Primeiro impresso

Alunos utilizam nomes para prédios no Campus I
Substituindo siglas e nomes extensos, alunos criam nomes populares para diversos lugares da UFPB
Igor Duarte / Lula Lambert

Nas salas e prédios da Universidade Federal da Paraíba, os estudantes têm a possibilidade de aprender a pensar sobre a sua futura profissão, além de vivenciar todo o universo que rodeia o campus. A vida universitária, que vai além dos limites físicos das salas de aula e passa pela vivência e interação proporcionada pelos ambientes comuns do Campus, traz um padrão de comportamento para os que frequentam suas dependências.

Os centros, departamentos e demais setores, geralmente nomeados com longos nomes, ganham abreviaturas e siglas que são uma das características do vocabulário acadêmico, bem como a criação de nomes populares. Seja por crítica ou por algum tipo de expressão afetuosa, esses apelidos se popularizam pela universidade e alguns se confundem com a própria história do Campus.

No Centro de Comunicação, Cultura e Artes, (CCTA), alguns prédios ficaram conhecidos: Abacatão e Micro-ondas. Os funcionários do Centro dizem que os nomes surgiram por motivos diferentes. “O Abacatão era só por causa da cor verde que o prédio possuía”, diz o secretário do CCTA, Fernando Brito. A origem do termo não consegue ser datada, pois já é muito antiga a referência a edificação. O prédio, no entanto, passa por reforma e,  no fim, a coloração com a qual ficou conhecida pelos alunos não mais existirá. “A reforma é para possibilitar que os alunos de teatro e dança tenham o seu espaço”, explica o diretor do Centro, David Fernandes.

O prédio mais antigo do CCTA é conhecido como Micro-ondas. Funcionários garantem que o termo surgiu por dois fatores: a arquitetura comprimida e pela ventilação ineficaz que provoca muito calor nas salas de aula. Hoje, o prédio conta com um sistema de climatização instalado há mais de cinco anos, porém, Diêgo Nascimento, estudante do quarto período de Jornalismo, reclama das condições de manutenção: "Precário. Precisa de melhorias".

AULA NO AFEGANISTÃO?
Com tantos programas de intercâmbio em ciências e línguas oferecidos pelo governo, essa pergunta parece chamada de campanha publicitária, mas demostra uma realidade curiosa do Campus I da UFPB. No Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), há setores cujas referências são conhecidas por todo o Campus: Praça da Alegria e Praça da Tristeza são alguns dos que são usados com frequência. Um prédio, porém, de construção relativamente recente, chama a atenção pela nomenclatura e causa estranhamento a alguns funcionários da equipe de limpeza quando eles têm que responder sobre a sua localização: "Afeganistão? Que nome!", exclama Francisco Rodrigues, de 24 anos.

A inauguração do Afeganistão ocorreu em meados de 2012 e vem ganhando fama entre os universitários. Andressa Raíssa de Souza, estudante do terceiro período de Psicologia, diz que não sabe bem onde surgiu e nem em qual momento começaram a chamar o prédio dessa forma, mas acredita que a razão é pela distância do novo prédio em relação às demais dependências do Centro e pelo calor que alguns alunos alegam sentir nas salas.

O responsável pela infraestrutura do CCHLA, Edson Lima, não entende o porquê dos estudantes nomearem o novo prédio dessa forma, pois segundo ele, é uma das estruturas mais modernas da UFPB. "Todas as salas possuem climatização adequada, então o problema não é o calor". Alguns estudantes de Letras no turno da noite reivindicam a autoria do apelido, alegando que por ser distante e isolado, quando o prédio ainda estava em construção parecia um escombro de guerra. "Esquisito e escuro, dava medo só de passar por perto", diz Socorro Farias, aluna do CCHLA, reforçando a versão.

BOLO DE NOIVA
Bolo de Noiva é outro nome dado a um prédio da UFPB. O local onde funciona os cursos de Física, Matemática e Estatística, além das coordenações dos cursos e programas de pós-graduação, possui uma arquitetura diferente dos demais centros. Estudantes do local acreditam que é precisamente a estrutura da construção que deu origem ao apelido. “Não só aqui é usado, mas todo mundo usa quando quer dar uma referência. Ajuda muito a conhecer a universidade”, diz Thomas Kevin, estudante do quarto período de Engenharia Elétrica e que cursa disciplinas lá. Além de ser conhecido por Bolo de Noiva, o prédio possui outra nominação: Boomerang, essa provavelmente por causa do formato completo do bloco. Contudo, a escada em espiral no centro do prédio faz referência ao apelido mais reconhecido. O secretário do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), Júlio César explica que o Centro não possui nenhuma restrição ao uso do apelido e que é algo imerso na cultura da universidade, embora esclareça que isso é feito apenas no campo informal.

ELEFANTE BRANCO
No Centro de Ciências da Saúde (CCS), existe uma das edificações mais antigas e conhecidas da universidade, o Elefante Branco. A expressão elefante branco é usada no mundo inteiro para se referir a obras que não terão funcionalidade condizente com seu tamanho ou gasto para construção e manutenção, o que é bem diferente da realidade do principal prédio do CCS. Para Luciana Rangel, secretária do centro há mais de 30 anos, o prédio sempre foi muito bem ocupado, utilizado e mantido, e diz não entender a razão para chamarem por tal apelido. "Quando cheguei aqui, já chamavam assim", completa. Muitas pessoas foram abordadas e questionadas sobre a origem do termo, mas todas, das mais novas às mais velhas, dizem não saber. Há alguns que apontam para o período de construção do prédio, para alguma crítica crítica à construção de uma estrutura grande demais para a realidade da época ou até pelo simples fato de ser grande e branco. É certo que a história deste nome popular, se confunde com a história da própria universidade. "Logo quando cheguei, pensei que era trote. Perguntei onde ficava a coordenação de Odontologia e me responderam: No Elefante Branco", conta uma aluna de odontologia que não quis se identificar.

Vizinho ao Elefante Branco encontramos o Ceasa, apelido dado a outro bloco do CCS, que há algum tempo ganhou os noticiários locais quado parte do teto caiu durante a realização de uma prova de vestibular. "Aqui nós temos também o Ceasa", diz Vilma Dias, professora de Enfermagem. "Antes da reforma eram dois galpões sem ventilação e os alunos batizaram de Ceasa", completa. Uma crítica clara, fazendo comparação da estrutura do bloco com os prédios do Centro de Abastecimento de Alimentos.

Criatividade, crítica, imersão na realidade universitária, representação do momento histórico e bom humor. São várias as razões que envolvem o surgimento dos mones populares que tanto estranhamos de início e que se tornam tão comuns com o passar do tempo. Estudar no Titanic, no C-A-baré e conhecer o Inferninho Verde são coisas que só se entende no mundo universitário da UFPB.