sábado, 28 de maio de 2016

Legião Urbana XXX Anos se apresenta em João Pessoa


Parecia um sonho. Enfim, a Legião Urbana subia no palco do Espaço Cultural José Lins do Rego, após 24 anos de espera e saudade.

Sou legionário. Não por ter a discografia completa e nem por ostentar uma coleção de biografias. Sou, porque escuto desde que me entendo por gente, porque essas canções fizeram e fazem parte de mim. Sei decorado cada frase, tom e respiração de todas as gravações de estúdio, ao vivo e caseiras. Com toda essa carga emocional e pessoal, resolvi curtir mais um tributo ao grupo, afinal, um legionário sério sabia que não seria um show da Legião Urbana. Não poderia ser sem a presença do Renato.

O concerto começa com a energia de “Será”, a música que abre o álbum homônimo, lançado em 1985, e que é o motivo da turnê: os 30 anos de lançamento do primeiro disco. Olho ao redor e percebo que ali, congregando do mesmo momento histórico, estavam 4 gerações, as chamadas “Baby Boom”, “X”, “Y” e “Z”. Normal. A Legião sempre foi atemporal e nunca fez acepção de pessoas. O curioso é que as gerações se subdividiam em dois outros grupos. Pude perceber pessoas mais velhas, jovens, adolescentes e crianças chorando e cantando cada trecho, mas vi também algumas pessoas, das 4 gerações, participando da celebração com o semblante do inédito, da descoberta.



A banda começa a tocar “A Dança”, percebo que vão tocar o primeiro álbum na íntegra, o que traz mais ainda um ar de nostalgia. Quantas vezes não ouvi aquele disco no “volume máximo”?!

Marcelo e Dado estavam muito bem no palco. O que não é surpresa. Recentemente, estive em apresentações dos seus projetos solo. A energia continua a mesma e dessa vez, muito bem acompanhada pelos músicos: Lucas Vasconcellos no baixo, Mauro Berman na guitarra e violão, Roberto Pollo nos teclados e samples e, pelo cantor André Frateschi. 

Quando a “Geração Coca-Cola” fez o chão tremer, pôde-se perceber o brilho no olhar de Dado ao ver o público eufórico, então, me despi da presunção do fã chato e congreguei também. No palco, estavam adolescentes tocando uma sequência de 3 acordes, com muita distorção na guitarra, muita crítica ao atual momento político e muita vontade de mudar tudo. Foi como uma viagem no espaço-tempo: uma banda de garotos tocando em uma garagem em Brasília.


Finalizando o primeiro bloco do show, o público fez coro com a música “Por Enquanto”. André, que assumiu os vocais na turnê, quase não precisou cantar, foi um momento para guardar na memória (e na memória dos smartphones).

Segundo Ato

Após um relato em áudio do que significa a Legião Urbana, começa a segunda parte do show. As luzes mudaram de cor, o público já estava no clímax e o legionário aqui já havia se incorporado à festa.

Perto de mim havia um segurança que permanecia de costas para o palco, carrancudo e indiferente. A banda volta e Dado começa o riff mais conhecido do rock brasileiro. “Tempo Perdido”, além de ser um hino à juventude, é a trilha sonora da vida das pessoas que tiveram seu caráter forjado pelas letras do Renato. Há algo nessas canções que desperta os valores humanos dentro de cada um de nós. Sabe o segurança? Abriu um sorriso, levantou a mão e cantou emocionado: “Todos os dias quando acordo…” Indescritível sensação de verve. Pertencimento. Humanidade. Por outro lado, enquanto curtia o abraço do meu amor, indaguei-me quantas daquelas pessoas que entoaram “Soldados” e “Daniel na Cova dos Leões” sabiam que essas músicas tratam de gênero e sexualidade. Pouco importa. Legião e os olhos dela (castanhos) eram o abraço forte que dizia que estávamos distantes de tudo.



Somos Tão Jovens

Dois jovens artistas participaram do show: Jonnata Doll, cantor cearense, subiu ao palco em uma performance à Renato, vivenciando a repressão e a esperança da canção “1965 (Duas tribos)”. A guitarra puxa “Dezesseis” e no vocal estava a cantora carioca Marina Franco, que nos trouxe uma nova sensação ao ouvirmos a aventura e morte de João Roberto em voz feminina. Ela também dividiu “Meninos e Meninas” com André Frateschi. Foi lindo.

Imagino como deve ter sido difícil a escolha do repertório para um show aguardado por 20 anos. Acho que acertaram a mão. Os hits foram todos tocados e as demais músicas que somaram ao set list, formaram um conjunto coeso, com sentido.

Após o retorno solicitado pelo bis, a banda toca a saga de João de Santo Cristo com um coral de mais de 15 mil vozes. “Faroeste Caboclo”, embora tenha seus 9 minutos de duração, o que contraria a lógica do mercado, é mesmo um hit. “Perfeição” e “Que País é Esse” fecham a noite com uma profecia lançada por Dado: “Esse castelo de cartas marcadas vai ruir… não chega até as olimpíadas! ”. Antes de tocarem a última, com ironia bradaram: “Essa eu quero dedicar… em nome da minha família… pela minha cadelinha Fifí”. Desde 1987 continuamos a perguntar: “Que país é esse?”



Estive em um show da Legião Urbana. Apesar do meu lado de fã chato insistir em dizer que seria um tributo, eu pude ver o Renato ali. Estava nos olhares, nas memórias e em milhares de vozes. Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fizeram um grande show em 2016, na cidade de João Pessoa.

Urbana Legio Omnia Vincit – Força Sempre

Publicado no portal Segue o Som
Fotos: Rafael Passos

domingo, 22 de maio de 2016

Duca Leindecker - “Faço músicas para emocionar as pessoas”





O porto alegrense Duca Leindecker é compositor, instrumentista, cantor e escritor brasileiro. Aos 13 anos iniciou sua carreira artística tocando em bares na noite gaúcha. Ainda adolescente, foi eleito pela crítica especializada como melhor guitarrista do Rio Grande do Sul, o que aconteceu por mais três temporadas consecutivas.


Suas músicas têm sido regravadas por diversos artistas como Tiago Iorc, Maria Gadu e Chimarruts. Após liderar a Cidadão Quem, formar o Pouca Vogal com Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), lançar o disco solo “Voz, Violão e Batucada” e o Dvd “Plano Aberto”, Duca segue em carreira solo, lançando singles surpreendentes como o “Só mais uma pra garantir”.

Conversei com ele sobre tudo isso, confere ai:

Duca, aos 15 anos você foi escolhido pelo jornal Zero Hora como o melhor guitarrista do Rio Grande do Sul. Qual o som que você mais escutava nessa época?


Comecei tocando em bares. Charlot bar foi o primeiro. Não era fácil. Nessa época eu escutava muita música popular, brasileira e gaúcha. Meu repertório era muito em cima disso. O rock surgiu na minha vida depois de ser apresentado para a música brasileira.


Bob Dylan. O que esse nome representa para você?


O Bob Dylan deu muita projeção para o meu nome e do Frank Solari. Ele nos convidou pessoalmente para acompanha-lo em uma turnê. Naquela época as pessoas ainda precisam de avalista para tudo e ele foi uma espécie de avalista.


Depois de toda essa trajetória desde o Cidadão Quem, Pouca Vogal, até a carreira solo, o que você escuta hoje? Qual som influencia suas composições hoje?


Hoje curto de tudo: música cubana, música clássica, rock, pop... Tudo que for bem feito. Faço música para chegar nas pessoas, para emocionar. Não faço música para ser famoso. Pelo contrário, se pudesse viver anônimo fazendo música, seria ótimo. Poderia andar entre as pessoas olhando para elas e observando suas expressões autênticas sem a máscara do deslumbramento.


Você é um artista que atravessou diferentes períodos da música brasileira. Como você encara o mercado em rede e a transmissão de áudio por streaming?

Acho ótimo. Ser do contra seria mais ou menos como ir contra a revolução industrial, ou Thomas Edson. As conquistas tecnológicas estão fadadas a elevar nossa civilização com o ônus de quebrar a indústria que precede essa tecnologia.



Em 1988 você gravou seu primeiro disco e em 2007 gravou o último com o Cidadão Quem, que é o meu preferido. Qual o seu disco preferido e quais as músicas preferidas nesses álbuns?


Concordo. O 7 também é o meu preferido, mas pinçando dos outros não deixaria de citar: “Ao fim de tudo”, “Pinhal”, “Girassóis”, “Música inédita”, “Parto Punk”, “Álbum de papel”, “Bossa”...


Em 2015 saíram o DVD “Plano Aberto” e o single “Só mais uma pra garantir”. Alguma novidade para este ano?

Pretendo lançar alguns singles convidando outros artistas. 



Publicado no portal Segue o Som

terça-feira, 17 de maio de 2016

O pequeno índio Brasil e a imprensa cachimbeira



Uma tribo perdida na América Latina, mas achada por muitos. Em meio aos membros da aldeia, um curumim chama a atenção: um indiozinho mestiço, novinho, ainda com dentes de leite. O pequeno apresenta traços de povos de todo o mundo. Rosto quadrado, pernas compridas e fala misturando alguns idiomas. Seus olhos são um problema: um verde e outro amarelo. Por isso, não se sabe se é filho de um marujo português ou de um soldado holandês, muito embora as pernas se assemelhem as de um angolano. Seus pais queriam o deleite, o resto não importa. A tribo não o aceita bem, os forasteiros também não. O pobre é deslocado, menosprezado e humilhado por todos.

Na tribo não há leis, mas alguns se colocam acima do que não existe. O cacique, o pajé e a benzedeira detêm todos os poderes. Unidos, confabulam noite e dia sobre o que fazer com o danado do indiozinho. Notam que o pirralho tem uma astúcia maliciosa. Sempre se destaca nas atividades físicas, no artesanato e na caça. Parece ameaçar o futuro da aldeia. Do cacique não se sabe muito. Há diversas versões de como ele conseguiu se tornar o mais poderoso guerreiro. Uns dizem que seus feitos não passam de fabulações e mentiras bem contadas. O pajé? Bem, esse sempre andou por essas terras. Sabe articular, sabe usar sua influência e sempre desfrutou dos despojos colhidos e caçados por outros. A velha do cachimbo é que não é tão velha assim. Antes dela se impor como uma entidade de poder, havia um outro xamã, conhecido como Tupi. Esse, coitado, foi traído por todos e destituído.

É curioso o medo que todos têm. O pequeno índio, filho de ninguém, não teria compromisso com nenhuma autoridade ancestral e, a não ser que se consiga doutriná-lo com uma teoria que o ensine sobre dependência, poderia botar tudo a perder. Já se percebe que não é tarefa fácil. O indiozinho é arteiro, consegue desenvolver práticas que aprimoram tarefas simples e até complexas. Para frear esse impulso criativo, todos zombam e apregoam que, o ‘jeitinho’ que ele acha para resolver tudo, é perigoso. Fingem que ele utiliza essa faculdade mental apenas para praticar pequenos delitos, como roubar frutas. É que mesmo sendo um exímio caçador e coletor, ele acha graça em pegar a comida dos outros. Sabe-se que os filhos do cacique não têm pernas tão longas, mesmo bem treinados, poderiam demorar mais nas jornadas. É necessário assegurar a ordem. Então, o pajé sugere uma cerimônia, diz que Tupã pediu os olhos do mestiço. O cacique mobiliza a estrutura e a velha cachimbeira benze toda a tribo e espalha a notícia do ritual. Eles arrancam os olhos do pequeno curumim em uma noite de poucas estrelas.

O pobre não sabe se grita ou se chora. Junto com a escuridão que chegou, veio um apagão na memória: não lembra como é enxergar. Imagino que a agonia do pequeno era mais pelo medo da noite do que pela cegueira. Sofria mais pelos barulhos que ouvia da tribo em festa, do que pela dor que sentia. Logo, a velha sussurra em seu ouvido que está tudo bem. Engolir o choro, sentar na tigela de barro e aproveitar a festa é o conselho que o indiozinho aceita, afinal, aquela voz séria desperta nele um sentimento de afeto, proximidade e confiança. Sempre ouviu daquela boca as histórias do mundo todo. Aquela narração sempre no presente, apontando fatos sem emoção e com a firmeza de quem detém a verdade, soavam para o pequeno, como uma mãe contando fábulas.

A senhora do cachimbo, todos os dias, orienta o pequeno índio sobre o que ele deve fazer e repete, como forma de criar uma verdade, que ele não é cego, mesmo sendo notória a falta de olhos.

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Radiohead volta à cena com dois novos clipes



Antes de lançar o novo disco, o Radiohead divulgou dois clipes que causaram burburinho na rede.

O mistério foi provocativo. Dias antes, alguns fãs ingleses receberam, por correio, uma mensagem que poderia indicar o nome do nono disco de estúdio da banda inglesa: “Sing the song of Sixpence that goes burn the witch”. Na semana que antecedeu o lançamento do clipe, outra surpresa: a banda excluiu todas as fotos e comentários das redes sociais, fazendo surgir quase que uma teoria conspiratória.

Após meses de produção em stop motion e todo esse suspense, o Radiohead lançou o clipe da canção “Burn the Witch”. A animação faz referência a um filme antigo (The Wicker Man), onde um policial acaba sendo queimado em uma fogueira por nativos de tradições pagãs. “Burn the Witch” ou “Queime a bruxa” é um clipe sombrio, onde o colorido e as feições simpáticas dos bonequinhos inspirados nos antigos brinquedos da marca Playmobil, disfarçam um pouco o real sentido do enredo – Queime a bruxa!


Quem dirige o vídeo é o cineasta Chris Hopewell, que já havia produzido o clipe da música “There There” em 2003.

Sonhando acordado

Três dias após o lançamento do clipe “Burn the Witch”, a banda lança outro clipe: desta vez dirigido pelo cineasta Paul Thomas Anderson (Sangue Negro e Boogie Nights), “Daydreaming” tem mais de seis minutos de duração e narra a peregrinação de Thom Yorke caminhando por um corredor onde as portas dão em lugares inusitados como lojas, estacionamentos e casas de estranhos.



Nono álbum

O próximo disco, aguardado por fãs e pela crítica há 5 anos, contará com programações eletrônicas acompanhadas de cordas clássicas como já vimos presentes nessas duas canções. Em 2015 a banda já havia gravado o single “Spectre” seguindo essa mesma linha de arranjo.

O lançamento virtual do novo disco será no domingo (8), já a versão física está com o lançamento previsto para o dia 17 de junho.

Publicado no portal Segue o Som