segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Barro lança Miocárdio


Pernambucano de Recife, Felipe Barros é cantor, instrumentista e compositor. Conhecido como guitarrista e líder da banda Dessinée, ele estreia em carreira solo com a acunha de Barro, lançando um disco surpreendente, o Miocárdio.


Miocárdio é uma amalgama. São 12 faixas cantadas em português, inglês, espanhol, francês e italiano, com uma sonoridade que vai desde o coco até a música eletrônica. Pensado para ser a celebração de uma cultura pop global, o disco é também, ao mesmo tempo, uma bandeira de resistência e reafirmação da música nordestina e brasileira.

Eu conversei com o Barro sobre sua carreira e seu recente disco, confira:

A carreira solo é um ponto final no trabalho com a banda Dessinee?
Com a Dessinée: vida normal. Criação de novos projetos. Eu sempre fiquei marcado pela banda Dessinée, mas, tipo, eu já tocava com outros artistas, nas bandas deles, produzi outros artistas. Então a carreira solo é mais uma frente, para somar mesmo.

Felipe Barros, mas você assina o disco como Barro. Algum motivo especial para tirar o ‘s’ do nome?
É... Barro é o meu nome de guerra. É o nome que eu me apresento artisticamente. E foi importante para mim porque quando eu tive a ideia de lançar o trabalho solo, pensei em um nome que me representasse e fui buscando do meu próprio nome, até chegar ao nome Barro. Para mim simboliza muita coisa, como molde mesmo e até com um sentido bíblico de início da humanidade. Barro como um futuro de um novo contato com a terra e com as raízes, a sonoridade do nome que foi inspirador para pensar o universo sonoro que eu trabalho, que a priori pode ser entendido como algo mais regional, mas que como todo barro é moldável e assimilável e está presente em várias as culturas é bem universal. É um nome curto, simples, direto e reto. Eu gosto.

O disco Miocárdio vem com pop anos 1960, temas regionais e rock. Afinal, qual o estilo defendido pelo Barro?
Nem acho assim tão forte a influência dos anos 60 nesse trabalho especificamente. Eu não penso muito em estilo, mas acho que os alicerces da música que eu faço têm muito da música produzida em Pernambuco e no Nordeste. Tem esse diálogo com a música popular brasileira de sempre e esse contato com a música pop do mundo. Uma coisa que foi muito forte para mim, sobretudo nesse nas participações, foi ver que hoje existe meio que um pop global, uma música pop feita por várias pessoas de cada centro urbano no mundo e essa música evidentemente traz as cargas de influência de cada localidade, mas tem um diálogo grande das sonoridades que influenciam os jovens pelo mundo e dos sons que estão circulando. Então é isso, um pop global, mas fincado na herança da música nordestina e na música popular brasileira.

Catalina Garcia, Jussara Marçal, Lisa Moore e Serena Altavilla são as partições especiais no disco. Como aconteceu asse contato e como essa amálgama cultural contribui com a proposta do disco?
Uma das coisas que tem a ver no meu processo de composição é compor em outros idiomas. Então quando eu fui fazer isso nesse disco, eu queria fazer de uma forma especial. Eu pensei que cada idioma poderia trazer também uma cultura junto, uma cultura vocal diferente e tal. Eu sempre gostei muito de voz feminina e desse encontro da voz feminina com a voz masculina. Escuto muitas músicas cantadas por mulheres, isso me influencia muito também. Aí veio a ideia de compor e chamar essas cantoras e é meio que isso: Jussara Marçal traz essa coisa da herança afro-brasileira e ela conta em francês muito bem e traz essa carga com um francês diferente do que eu fazia com a Dessinée, que um francês mais africano; Catalina Garcia da Monsieur Periné que traz um link com os sons da América Latina, que, para mim é algo muito importante; Lisa Moore, do Canada, de Montreal, da banda Blood and Glass que traz uma coisa noturna, do frio, de outra cultura, que foi um encontro fantástico; e a Serena Altavilla que a gente fez essa versão do “Vai” em italiano que abriu as portas pra começar a lançar o disco por lá. Então foi a soma dessas quatro figurinhas mostrando essa conexão da minha música com esse pop global e com outras culturas, para reafirmar a música brasileira como um manancial cultural e de diálogo com a cultura do mundo.

A banda do Miocárdio é formada por grandes músicos. Eles participaram do processo de criação das músicas?
Tem duas coisas. Uma coisa é a composição, que aí a maioria das músicas são minhas e tem duas músicas com Ed Staudinger, que é o tecladista da banda Dessinée e uma com um compositor de Recife Igor de Carvalho. Então eles são os únicos parceiros do disco. E tem a parte criativa do arranjo e aí realmente o processo foi muito coletivo. Tem as cinco que Gui Amabis produziu e tem as várias faixas produzidas com o pessoal de Recife. Então os músicos são produtores e eu também sou, então a gente já foi arranjando junto, já pensando na produção e todo mundo junto ali, misturado, fazendo a parada acontecer.

Como foi o seu processo de criação para o disco?
O processo de criação foi bem longo, mas ao mesmo tempo bem intenso. Nunca é tão longo assim, foram dois anos e um pouquinho. Um processo que começou desde pensar o nome e tal, mas tem uma coisa que eu acho que vale a pena marcar, salientar, é que quando eu tive a ideia do disco: sempre tem aquela coisa de você pegar a músicas de uma vida inteira, por ser o primeiro trabalho, mas no meu caso eu não fiz assim, eu quis parar e dizer: o que eu tenho para dizer hoje? O que eu posso compor hoje para essas pessoas? Para mim e para os outros. E as músicas nasceram todas desse embate de 2014 para cá, fora “Novelles Vagues” em francês, com Jussara Marçal, que vem de uma safra de 2009, mas a maioria foi tudo de 2014 para cá. Então foi feito com esse calor das composições que foram surgindo. Mas é um processo muito longo, que envolve várias camadas, a escolha do nome, a escolha da pessoa que faria a arte do disco, a presença de Gui Amabis, e de cada músico que participou. Teve muito de eu ir viajando pelo mundo e ir sentindo as coisas e vendo as conexões que eram possíveis fazer, cada pessoa que era possível agregar no trabalho e é isso. Isso é o ponto fundamental.

Dia 30 você lançará o disco em João Pessoa. Podemos esperar surpresas para esse show?
Cada show é um show muito único para mim. É impossível eu tratar um show, uma apresentação com um modo automático. Porque é um encontro com as pessoas que saíram de casa para ver aquela coisa, para ver aquilo, juntos. Então isso já é especial. João pessoa é uma cidade que eu frequento muito, onde eu fiz muitos amigos nos últimos anos e que inclusive influenciou muito no meu processo artístico. Então muito dessa presença de músicas ligadas ao forró, sobre tudo ao coco, como “Mata o Nego” e “Piso em Chão de Estrela” tem a ver com a vivencia do Baile Muderno, de ver Seu Pereira, de ver Chico Correa. Foi muito importante para mim. Eles vão estar no show, vamos fazer versões novas para as músicas deles e vamos cantar as minhas músicas e é um encontro bem especial que marca essa minha relação com a cidade também e esse carinho que eu tenho por Joao Pessoa. Outra coisa que eu acho massa é a presença de Vieira abrindo o show, um artista novo de Joao Pessoa, mas que me chamou muito a atenção o trabalho dele. Gostei muito, Enfim. Será o encontro de pessoas que eu gosto muito, Vieira, Seu pereira e Chico Correa.