De cara.
No seco. Sem contextualizar e sem pedir auxílio ao Google, veio ao ouvido algo
que remeteu ao Clube da Esquina, Tropicália com guitarras do pós-punk
brasileiro e um toque de Jorge Ben. Tudo isso em apenas duas faixas.
“Abrir a
porta/ Ver a menina/ De pernas tortas”
Há
tempos não ouvia, nos novos sons brasileiros, guitarras com overdrive e a
instiga juvenil fundamental para seu timbre perfeito.
Ao
acrescentar na audição as imagens do clipe “Casa 180”, tudo fez mais sentido
quando fiquei mais confuso! Psicodelia, imagens com retraço e pigmentos de
câmera Super8, instrumentos vintage e um apelo visual voltado para o analógico.
A cara limpa de jovens que carregam aquela antiga verve de querer mudar o
mundo. Mas enfim, a banda é nova mesmo?
José
Ibarra (vocal e piano), Miguima (baixo), Deco Almeida (bateria), Lucas Nunes
(guitarra) e Tom Veloso (composições). Essa é a Dônica e é nova sim.
Dentre
as influências que a banda apresenta como referência estão nomes como Pink
Floyd, Mutantes, Queen, Clube da Esquina e uma infinidade de coisas de bom
gosto. Caetano Veloso e Milton Nascimento aparecem na lista e não é porque são
respectivamente pai e padrinho, é porque os garotos têm mesmo bom gosto.
Com toda
essa carga artística e genética, a banda apresentou em 2014 seu primeiro álbum,
“Continuidade dos Parques”, fruto das composições do quinteto e do contrato com
uma gravadora multinacional. Esse álbum ganhou versão em vinil, o que reforça a
busca da banda em fortalecer sua imagem retrô.
Talvez
tentando fugir da pecha quase inevitável de “a banda do filho de Caetano”, Tom
assume um posto curioso, apresentando-se como compositor que tem vergonha de
subir nos palcos, pois se sente incapaz de tocar para muitas pessoas.
A Dônica
é a minha aposta para o futuro da música brasileira. Um futuro carregado de
sons do passado e com a inquietude do que é novo. Assim como foi com Gonzaga e
Gonzaguinha.
Texto publicado no portal Segue o Som