quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Alan Pear lança “Petálica”

O cantor e compositor santa-ritense Alan Pear acaba de lançar seu mais novo disco solo, o “Petálica”. Um projeto autoral com uma mistura bem elaborada de rock e temas locais que narram as vivências do vocalista da banda Anemone.

Petálica é um álbum concebido em estúdio, com a preocupação de soar como algo independente e que não pareça estar conectado aos modelos do mercado midiático da música. Além das letras que tratam de sexualidade, família, tecnologia e sociedade, Alan traz em suas composições uma variedade de timbres que ambientam cada tema abordado.

Disponível no Youtube e no SoundClound, o disco foi lançado oficialmente no Espaço Cultural José Lins do Rego e está disponível para download na página oficial do cantor no Facebook.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Barro lança Miocárdio


Pernambucano de Recife, Felipe Barros é cantor, instrumentista e compositor. Conhecido como guitarrista e líder da banda Dessinée, ele estreia em carreira solo com a acunha de Barro, lançando um disco surpreendente, o Miocárdio.


Miocárdio é uma amalgama. São 12 faixas cantadas em português, inglês, espanhol, francês e italiano, com uma sonoridade que vai desde o coco até a música eletrônica. Pensado para ser a celebração de uma cultura pop global, o disco é também, ao mesmo tempo, uma bandeira de resistência e reafirmação da música nordestina e brasileira.

Eu conversei com o Barro sobre sua carreira e seu recente disco, confira:

A carreira solo é um ponto final no trabalho com a banda Dessinee?
Com a Dessinée: vida normal. Criação de novos projetos. Eu sempre fiquei marcado pela banda Dessinée, mas, tipo, eu já tocava com outros artistas, nas bandas deles, produzi outros artistas. Então a carreira solo é mais uma frente, para somar mesmo.

Felipe Barros, mas você assina o disco como Barro. Algum motivo especial para tirar o ‘s’ do nome?
É... Barro é o meu nome de guerra. É o nome que eu me apresento artisticamente. E foi importante para mim porque quando eu tive a ideia de lançar o trabalho solo, pensei em um nome que me representasse e fui buscando do meu próprio nome, até chegar ao nome Barro. Para mim simboliza muita coisa, como molde mesmo e até com um sentido bíblico de início da humanidade. Barro como um futuro de um novo contato com a terra e com as raízes, a sonoridade do nome que foi inspirador para pensar o universo sonoro que eu trabalho, que a priori pode ser entendido como algo mais regional, mas que como todo barro é moldável e assimilável e está presente em várias as culturas é bem universal. É um nome curto, simples, direto e reto. Eu gosto.

O disco Miocárdio vem com pop anos 1960, temas regionais e rock. Afinal, qual o estilo defendido pelo Barro?
Nem acho assim tão forte a influência dos anos 60 nesse trabalho especificamente. Eu não penso muito em estilo, mas acho que os alicerces da música que eu faço têm muito da música produzida em Pernambuco e no Nordeste. Tem esse diálogo com a música popular brasileira de sempre e esse contato com a música pop do mundo. Uma coisa que foi muito forte para mim, sobretudo nesse nas participações, foi ver que hoje existe meio que um pop global, uma música pop feita por várias pessoas de cada centro urbano no mundo e essa música evidentemente traz as cargas de influência de cada localidade, mas tem um diálogo grande das sonoridades que influenciam os jovens pelo mundo e dos sons que estão circulando. Então é isso, um pop global, mas fincado na herança da música nordestina e na música popular brasileira.

Catalina Garcia, Jussara Marçal, Lisa Moore e Serena Altavilla são as partições especiais no disco. Como aconteceu asse contato e como essa amálgama cultural contribui com a proposta do disco?
Uma das coisas que tem a ver no meu processo de composição é compor em outros idiomas. Então quando eu fui fazer isso nesse disco, eu queria fazer de uma forma especial. Eu pensei que cada idioma poderia trazer também uma cultura junto, uma cultura vocal diferente e tal. Eu sempre gostei muito de voz feminina e desse encontro da voz feminina com a voz masculina. Escuto muitas músicas cantadas por mulheres, isso me influencia muito também. Aí veio a ideia de compor e chamar essas cantoras e é meio que isso: Jussara Marçal traz essa coisa da herança afro-brasileira e ela conta em francês muito bem e traz essa carga com um francês diferente do que eu fazia com a Dessinée, que um francês mais africano; Catalina Garcia da Monsieur Periné que traz um link com os sons da América Latina, que, para mim é algo muito importante; Lisa Moore, do Canada, de Montreal, da banda Blood and Glass que traz uma coisa noturna, do frio, de outra cultura, que foi um encontro fantástico; e a Serena Altavilla que a gente fez essa versão do “Vai” em italiano que abriu as portas pra começar a lançar o disco por lá. Então foi a soma dessas quatro figurinhas mostrando essa conexão da minha música com esse pop global e com outras culturas, para reafirmar a música brasileira como um manancial cultural e de diálogo com a cultura do mundo.

A banda do Miocárdio é formada por grandes músicos. Eles participaram do processo de criação das músicas?
Tem duas coisas. Uma coisa é a composição, que aí a maioria das músicas são minhas e tem duas músicas com Ed Staudinger, que é o tecladista da banda Dessinée e uma com um compositor de Recife Igor de Carvalho. Então eles são os únicos parceiros do disco. E tem a parte criativa do arranjo e aí realmente o processo foi muito coletivo. Tem as cinco que Gui Amabis produziu e tem as várias faixas produzidas com o pessoal de Recife. Então os músicos são produtores e eu também sou, então a gente já foi arranjando junto, já pensando na produção e todo mundo junto ali, misturado, fazendo a parada acontecer.

Como foi o seu processo de criação para o disco?
O processo de criação foi bem longo, mas ao mesmo tempo bem intenso. Nunca é tão longo assim, foram dois anos e um pouquinho. Um processo que começou desde pensar o nome e tal, mas tem uma coisa que eu acho que vale a pena marcar, salientar, é que quando eu tive a ideia do disco: sempre tem aquela coisa de você pegar a músicas de uma vida inteira, por ser o primeiro trabalho, mas no meu caso eu não fiz assim, eu quis parar e dizer: o que eu tenho para dizer hoje? O que eu posso compor hoje para essas pessoas? Para mim e para os outros. E as músicas nasceram todas desse embate de 2014 para cá, fora “Novelles Vagues” em francês, com Jussara Marçal, que vem de uma safra de 2009, mas a maioria foi tudo de 2014 para cá. Então foi feito com esse calor das composições que foram surgindo. Mas é um processo muito longo, que envolve várias camadas, a escolha do nome, a escolha da pessoa que faria a arte do disco, a presença de Gui Amabis, e de cada músico que participou. Teve muito de eu ir viajando pelo mundo e ir sentindo as coisas e vendo as conexões que eram possíveis fazer, cada pessoa que era possível agregar no trabalho e é isso. Isso é o ponto fundamental.

Dia 30 você lançará o disco em João Pessoa. Podemos esperar surpresas para esse show?
Cada show é um show muito único para mim. É impossível eu tratar um show, uma apresentação com um modo automático. Porque é um encontro com as pessoas que saíram de casa para ver aquela coisa, para ver aquilo, juntos. Então isso já é especial. João pessoa é uma cidade que eu frequento muito, onde eu fiz muitos amigos nos últimos anos e que inclusive influenciou muito no meu processo artístico. Então muito dessa presença de músicas ligadas ao forró, sobre tudo ao coco, como “Mata o Nego” e “Piso em Chão de Estrela” tem a ver com a vivencia do Baile Muderno, de ver Seu Pereira, de ver Chico Correa. Foi muito importante para mim. Eles vão estar no show, vamos fazer versões novas para as músicas deles e vamos cantar as minhas músicas e é um encontro bem especial que marca essa minha relação com a cidade também e esse carinho que eu tenho por Joao Pessoa. Outra coisa que eu acho massa é a presença de Vieira abrindo o show, um artista novo de Joao Pessoa, mas que me chamou muito a atenção o trabalho dele. Gostei muito, Enfim. Será o encontro de pessoas que eu gosto muito, Vieira, Seu pereira e Chico Correa.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Resiliência

Rimo
Espremo
Arrimo
Remo

Suplico
Espero
Fabrico
Tempero

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

André L R Mendes e todas as suas cores em um artesanato musical


O Segue o Som teve acesso exclusivo ao sexto disco do baiano André L R Mendes. “Todas as Cores”, produzido na sala da casa amarelo ouro, vem carregado de boas energias e simplicidade. O lançamento será no dia 15 de julho.

Faz uns anos. Na cidade de Lauro de Freitas, Bahia, quando saía da escola, um colega me apresentou a Maria Bacana. “Os caras andam por essas ruas e tocam na MTV” foi o argumento usado para que eu levasse aquele CD para casa. Na capa, uma menina e uma Barbie. No conteúdo, rock. E este jornalista – que era um menino – gostou de cara. A banda, liderada por André Mendes, gravou um disco pela Universal Music e Rock It, produzido por Dado Villa-Lobos e Tom Capone. Considerada banda revelação pela revista Bizz, chegou ao fim antes mesmo da década de 1990 acabar.

Em 2011, após um longo hiato na carreira, André volta à ativa com seu primeiro disco solo, “Bem-vindo à Navegação”. Desde então foram lançados 5 discos, sempre no dia do seu aniversário, 15 de julho. “Passei uns anos sem produzir uma vírgula, mas um dia deu um estralo que me mostrou que se eu quero que algo aconteça, tenho que fazer rolar”, afirma o músico.


Do it yourself

Faça você mesmo se refere à prática de fazer algo por conta própria, em vez de comprar ou pagar por um trabalho profissional. Esse (por que não dizer?) estilo de vida, surgiu durante a cena punk e vem se aplicando em alguns movimentos da música.

André conta que desde o “Surfbudismo”, lançado em 2014, optou por uma produção 100% independente por questões práticas. Compositor inquieto, não teria condições de manter a proposta de lançar um disco por ano se continuasse no modelo de produção convencional, forma que adotou nos seus três primeiros discos. “Produzir com produtor e estúdio é caro, então me joguei no ápice da carreira solo: eu faço absolutamente tudo na minha produção. Componho, arranjo, produzo, gravo, mixo, masterizo, faço o projeto gráfico e o videoclipe”, afirma André, que considera que esse modelo o traz a liberdade que todo artista precisa.

Com a coragem de encarar a empreitada e cercado de recursos tecnológicos que seriam impensados há alguns anos, André L R Mendes se comporta como um artesão de canções. Com maturidade e consciência pós-moderna, trata de coisas corriqueiras da vida com sutileza e leveza.

“Não sei exatamente qual é o meu estilo musical, mas me encaixo como cantautor. Me sinto 50% compositor, 20% instrumentista, 10% cantor e 20% inquieto”, afirma.


Todas as Cores

Gravado na sala de sua casa e com a proposta de abordar “a maturidade e a aceitação da vida como ela é”, o sexto disco do músico baiano será lançado em seu aniversário de 40 anos, mais uma data simbólica que se desmancha na nossa modernidade líquida.

“Todas as cores” é um disco diverso, assim como a pluralidade de cores também. São 10 faixas que tratam predominantemente da vida e do cotidiano. Violões, guitarras e baterias programadas, recursos presentes nos dois últimos discos, reaparecem de forma mais equilibrada, denotando o amadurecimento do músico também na função de produtor.

A primeira faixa, “Vida”, traz a ideologia do ‘faça você mesmo’ e a importância das pequenas coisas, contextualizando seu conteúdo literal com o som, que mistura, como em uma paleta de cores, piano rhodes, sampler de bateria e violão. Um quadro bem colorido.




“Despois de tantos naufrágios, a gente aprende a nadar no mar”. A quinta faixa do disco, que ganhou clipe promocional para o lançamento, nos remete a calma que a maturidade tem. Os violões, bem timbrados, são um convite à vida “que não deve ser vivida em vão”.

Um belo disco composto por todas as cores.

Sempre soando tropical, com ar de praia, a obra quase artesanal de André L R Mendes é um fusion de sons, estilos e cores. Em uma época em que a reprodutividade técnica separa a música real da música virtual, artistas da manufatura musical acabam sendo cruciais para a manutenção da arte por arte.



Você pode baixar todas as músicas no site oficial.

Publicado no portal Segue o Som
Fotos: Cíntia Moreno

sábado, 28 de maio de 2016

Legião Urbana XXX Anos se apresenta em João Pessoa


Parecia um sonho. Enfim, a Legião Urbana subia no palco do Espaço Cultural José Lins do Rego, após 24 anos de espera e saudade.

Sou legionário. Não por ter a discografia completa e nem por ostentar uma coleção de biografias. Sou, porque escuto desde que me entendo por gente, porque essas canções fizeram e fazem parte de mim. Sei decorado cada frase, tom e respiração de todas as gravações de estúdio, ao vivo e caseiras. Com toda essa carga emocional e pessoal, resolvi curtir mais um tributo ao grupo, afinal, um legionário sério sabia que não seria um show da Legião Urbana. Não poderia ser sem a presença do Renato.

O concerto começa com a energia de “Será”, a música que abre o álbum homônimo, lançado em 1985, e que é o motivo da turnê: os 30 anos de lançamento do primeiro disco. Olho ao redor e percebo que ali, congregando do mesmo momento histórico, estavam 4 gerações, as chamadas “Baby Boom”, “X”, “Y” e “Z”. Normal. A Legião sempre foi atemporal e nunca fez acepção de pessoas. O curioso é que as gerações se subdividiam em dois outros grupos. Pude perceber pessoas mais velhas, jovens, adolescentes e crianças chorando e cantando cada trecho, mas vi também algumas pessoas, das 4 gerações, participando da celebração com o semblante do inédito, da descoberta.



A banda começa a tocar “A Dança”, percebo que vão tocar o primeiro álbum na íntegra, o que traz mais ainda um ar de nostalgia. Quantas vezes não ouvi aquele disco no “volume máximo”?!

Marcelo e Dado estavam muito bem no palco. O que não é surpresa. Recentemente, estive em apresentações dos seus projetos solo. A energia continua a mesma e dessa vez, muito bem acompanhada pelos músicos: Lucas Vasconcellos no baixo, Mauro Berman na guitarra e violão, Roberto Pollo nos teclados e samples e, pelo cantor André Frateschi. 

Quando a “Geração Coca-Cola” fez o chão tremer, pôde-se perceber o brilho no olhar de Dado ao ver o público eufórico, então, me despi da presunção do fã chato e congreguei também. No palco, estavam adolescentes tocando uma sequência de 3 acordes, com muita distorção na guitarra, muita crítica ao atual momento político e muita vontade de mudar tudo. Foi como uma viagem no espaço-tempo: uma banda de garotos tocando em uma garagem em Brasília.


Finalizando o primeiro bloco do show, o público fez coro com a música “Por Enquanto”. André, que assumiu os vocais na turnê, quase não precisou cantar, foi um momento para guardar na memória (e na memória dos smartphones).

Segundo Ato

Após um relato em áudio do que significa a Legião Urbana, começa a segunda parte do show. As luzes mudaram de cor, o público já estava no clímax e o legionário aqui já havia se incorporado à festa.

Perto de mim havia um segurança que permanecia de costas para o palco, carrancudo e indiferente. A banda volta e Dado começa o riff mais conhecido do rock brasileiro. “Tempo Perdido”, além de ser um hino à juventude, é a trilha sonora da vida das pessoas que tiveram seu caráter forjado pelas letras do Renato. Há algo nessas canções que desperta os valores humanos dentro de cada um de nós. Sabe o segurança? Abriu um sorriso, levantou a mão e cantou emocionado: “Todos os dias quando acordo…” Indescritível sensação de verve. Pertencimento. Humanidade. Por outro lado, enquanto curtia o abraço do meu amor, indaguei-me quantas daquelas pessoas que entoaram “Soldados” e “Daniel na Cova dos Leões” sabiam que essas músicas tratam de gênero e sexualidade. Pouco importa. Legião e os olhos dela (castanhos) eram o abraço forte que dizia que estávamos distantes de tudo.



Somos Tão Jovens

Dois jovens artistas participaram do show: Jonnata Doll, cantor cearense, subiu ao palco em uma performance à Renato, vivenciando a repressão e a esperança da canção “1965 (Duas tribos)”. A guitarra puxa “Dezesseis” e no vocal estava a cantora carioca Marina Franco, que nos trouxe uma nova sensação ao ouvirmos a aventura e morte de João Roberto em voz feminina. Ela também dividiu “Meninos e Meninas” com André Frateschi. Foi lindo.

Imagino como deve ter sido difícil a escolha do repertório para um show aguardado por 20 anos. Acho que acertaram a mão. Os hits foram todos tocados e as demais músicas que somaram ao set list, formaram um conjunto coeso, com sentido.

Após o retorno solicitado pelo bis, a banda toca a saga de João de Santo Cristo com um coral de mais de 15 mil vozes. “Faroeste Caboclo”, embora tenha seus 9 minutos de duração, o que contraria a lógica do mercado, é mesmo um hit. “Perfeição” e “Que País é Esse” fecham a noite com uma profecia lançada por Dado: “Esse castelo de cartas marcadas vai ruir… não chega até as olimpíadas! ”. Antes de tocarem a última, com ironia bradaram: “Essa eu quero dedicar… em nome da minha família… pela minha cadelinha Fifí”. Desde 1987 continuamos a perguntar: “Que país é esse?”



Estive em um show da Legião Urbana. Apesar do meu lado de fã chato insistir em dizer que seria um tributo, eu pude ver o Renato ali. Estava nos olhares, nas memórias e em milhares de vozes. Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fizeram um grande show em 2016, na cidade de João Pessoa.

Urbana Legio Omnia Vincit – Força Sempre

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Fotos: Rafael Passos

domingo, 22 de maio de 2016

Duca Leindecker - “Faço músicas para emocionar as pessoas”





O porto alegrense Duca Leindecker é compositor, instrumentista, cantor e escritor brasileiro. Aos 13 anos iniciou sua carreira artística tocando em bares na noite gaúcha. Ainda adolescente, foi eleito pela crítica especializada como melhor guitarrista do Rio Grande do Sul, o que aconteceu por mais três temporadas consecutivas.


Suas músicas têm sido regravadas por diversos artistas como Tiago Iorc, Maria Gadu e Chimarruts. Após liderar a Cidadão Quem, formar o Pouca Vogal com Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), lançar o disco solo “Voz, Violão e Batucada” e o Dvd “Plano Aberto”, Duca segue em carreira solo, lançando singles surpreendentes como o “Só mais uma pra garantir”.

Conversei com ele sobre tudo isso, confere ai:

Duca, aos 15 anos você foi escolhido pelo jornal Zero Hora como o melhor guitarrista do Rio Grande do Sul. Qual o som que você mais escutava nessa época?


Comecei tocando em bares. Charlot bar foi o primeiro. Não era fácil. Nessa época eu escutava muita música popular, brasileira e gaúcha. Meu repertório era muito em cima disso. O rock surgiu na minha vida depois de ser apresentado para a música brasileira.


Bob Dylan. O que esse nome representa para você?


O Bob Dylan deu muita projeção para o meu nome e do Frank Solari. Ele nos convidou pessoalmente para acompanha-lo em uma turnê. Naquela época as pessoas ainda precisam de avalista para tudo e ele foi uma espécie de avalista.


Depois de toda essa trajetória desde o Cidadão Quem, Pouca Vogal, até a carreira solo, o que você escuta hoje? Qual som influencia suas composições hoje?


Hoje curto de tudo: música cubana, música clássica, rock, pop... Tudo que for bem feito. Faço música para chegar nas pessoas, para emocionar. Não faço música para ser famoso. Pelo contrário, se pudesse viver anônimo fazendo música, seria ótimo. Poderia andar entre as pessoas olhando para elas e observando suas expressões autênticas sem a máscara do deslumbramento.


Você é um artista que atravessou diferentes períodos da música brasileira. Como você encara o mercado em rede e a transmissão de áudio por streaming?

Acho ótimo. Ser do contra seria mais ou menos como ir contra a revolução industrial, ou Thomas Edson. As conquistas tecnológicas estão fadadas a elevar nossa civilização com o ônus de quebrar a indústria que precede essa tecnologia.



Em 1988 você gravou seu primeiro disco e em 2007 gravou o último com o Cidadão Quem, que é o meu preferido. Qual o seu disco preferido e quais as músicas preferidas nesses álbuns?


Concordo. O 7 também é o meu preferido, mas pinçando dos outros não deixaria de citar: “Ao fim de tudo”, “Pinhal”, “Girassóis”, “Música inédita”, “Parto Punk”, “Álbum de papel”, “Bossa”...


Em 2015 saíram o DVD “Plano Aberto” e o single “Só mais uma pra garantir”. Alguma novidade para este ano?

Pretendo lançar alguns singles convidando outros artistas. 



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terça-feira, 17 de maio de 2016

O pequeno índio Brasil e a imprensa cachimbeira



Uma tribo perdida na América Latina, mas achada por muitos. Em meio aos membros da aldeia, um curumim chama a atenção: um indiozinho mestiço, novinho, ainda com dentes de leite. O pequeno apresenta traços de povos de todo o mundo. Rosto quadrado, pernas compridas e fala misturando alguns idiomas. Seus olhos são um problema: um verde e outro amarelo. Por isso, não se sabe se é filho de um marujo português ou de um soldado holandês, muito embora as pernas se assemelhem as de um angolano. Seus pais queriam o deleite, o resto não importa. A tribo não o aceita bem, os forasteiros também não. O pobre é deslocado, menosprezado e humilhado por todos.

Na tribo não há leis, mas alguns se colocam acima do que não existe. O cacique, o pajé e a benzedeira detêm todos os poderes. Unidos, confabulam noite e dia sobre o que fazer com o danado do indiozinho. Notam que o pirralho tem uma astúcia maliciosa. Sempre se destaca nas atividades físicas, no artesanato e na caça. Parece ameaçar o futuro da aldeia. Do cacique não se sabe muito. Há diversas versões de como ele conseguiu se tornar o mais poderoso guerreiro. Uns dizem que seus feitos não passam de fabulações e mentiras bem contadas. O pajé? Bem, esse sempre andou por essas terras. Sabe articular, sabe usar sua influência e sempre desfrutou dos despojos colhidos e caçados por outros. A velha do cachimbo é que não é tão velha assim. Antes dela se impor como uma entidade de poder, havia um outro xamã, conhecido como Tupi. Esse, coitado, foi traído por todos e destituído.

É curioso o medo que todos têm. O pequeno índio, filho de ninguém, não teria compromisso com nenhuma autoridade ancestral e, a não ser que se consiga doutriná-lo com uma teoria que o ensine sobre dependência, poderia botar tudo a perder. Já se percebe que não é tarefa fácil. O indiozinho é arteiro, consegue desenvolver práticas que aprimoram tarefas simples e até complexas. Para frear esse impulso criativo, todos zombam e apregoam que, o ‘jeitinho’ que ele acha para resolver tudo, é perigoso. Fingem que ele utiliza essa faculdade mental apenas para praticar pequenos delitos, como roubar frutas. É que mesmo sendo um exímio caçador e coletor, ele acha graça em pegar a comida dos outros. Sabe-se que os filhos do cacique não têm pernas tão longas, mesmo bem treinados, poderiam demorar mais nas jornadas. É necessário assegurar a ordem. Então, o pajé sugere uma cerimônia, diz que Tupã pediu os olhos do mestiço. O cacique mobiliza a estrutura e a velha cachimbeira benze toda a tribo e espalha a notícia do ritual. Eles arrancam os olhos do pequeno curumim em uma noite de poucas estrelas.

O pobre não sabe se grita ou se chora. Junto com a escuridão que chegou, veio um apagão na memória: não lembra como é enxergar. Imagino que a agonia do pequeno era mais pelo medo da noite do que pela cegueira. Sofria mais pelos barulhos que ouvia da tribo em festa, do que pela dor que sentia. Logo, a velha sussurra em seu ouvido que está tudo bem. Engolir o choro, sentar na tigela de barro e aproveitar a festa é o conselho que o indiozinho aceita, afinal, aquela voz séria desperta nele um sentimento de afeto, proximidade e confiança. Sempre ouviu daquela boca as histórias do mundo todo. Aquela narração sempre no presente, apontando fatos sem emoção e com a firmeza de quem detém a verdade, soavam para o pequeno, como uma mãe contando fábulas.

A senhora do cachimbo, todos os dias, orienta o pequeno índio sobre o que ele deve fazer e repete, como forma de criar uma verdade, que ele não é cego, mesmo sendo notória a falta de olhos.

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Radiohead volta à cena com dois novos clipes



Antes de lançar o novo disco, o Radiohead divulgou dois clipes que causaram burburinho na rede.

O mistério foi provocativo. Dias antes, alguns fãs ingleses receberam, por correio, uma mensagem que poderia indicar o nome do nono disco de estúdio da banda inglesa: “Sing the song of Sixpence that goes burn the witch”. Na semana que antecedeu o lançamento do clipe, outra surpresa: a banda excluiu todas as fotos e comentários das redes sociais, fazendo surgir quase que uma teoria conspiratória.

Após meses de produção em stop motion e todo esse suspense, o Radiohead lançou o clipe da canção “Burn the Witch”. A animação faz referência a um filme antigo (The Wicker Man), onde um policial acaba sendo queimado em uma fogueira por nativos de tradições pagãs. “Burn the Witch” ou “Queime a bruxa” é um clipe sombrio, onde o colorido e as feições simpáticas dos bonequinhos inspirados nos antigos brinquedos da marca Playmobil, disfarçam um pouco o real sentido do enredo – Queime a bruxa!


Quem dirige o vídeo é o cineasta Chris Hopewell, que já havia produzido o clipe da música “There There” em 2003.

Sonhando acordado

Três dias após o lançamento do clipe “Burn the Witch”, a banda lança outro clipe: desta vez dirigido pelo cineasta Paul Thomas Anderson (Sangue Negro e Boogie Nights), “Daydreaming” tem mais de seis minutos de duração e narra a peregrinação de Thom Yorke caminhando por um corredor onde as portas dão em lugares inusitados como lojas, estacionamentos e casas de estranhos.



Nono álbum

O próximo disco, aguardado por fãs e pela crítica há 5 anos, contará com programações eletrônicas acompanhadas de cordas clássicas como já vimos presentes nessas duas canções. Em 2015 a banda já havia gravado o single “Spectre” seguindo essa mesma linha de arranjo.

O lançamento virtual do novo disco será no domingo (8), já a versão física está com o lançamento previsto para o dia 17 de junho.

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sábado, 30 de abril de 2016

Adeus, Prince



Duvido muito que até os mais jovens leitores deste site não tenham ouvido alguma música do Prince. Duvido, também, que os que conheçam sua obra, neste momento de luto, não dancem ao ouvir suas músicas. O texto seria sobre a morte, mas não dá para escrever sobre o Prince sem falar em dança, pois como disse o Chico César: “Quando ouvi Prince, dancei”.

Prince Rogers Nelson nasceu em 7 de junho de 1958, em Minneapolis, no estado de Minnesota. Filho de um Jazzista, recebeu o nome em homenagem ao grupo de jazz que o pai tocava, o Prince Rogers Trio. Na adolescência, junto com um primo e um vizinho, montou a Grand Central – banda onde desenvolveu a técnica com a guitarra e já mostrava seu talento vocal. Eles tocavam em clubes da cidade, tinham um som influenciado por James Brown, Jimi Hendrix e Earth. Músico multi-instrumentista, vocalista e dançarino, Prince lançou seu primeiro álbum em 1978, aos vinte anos.

Em 38 anos de carreira, gravou trinta e seis álbuns e atuou em quatro filmes. Vendeu aproximadamente 160 milhões de discos e esteve sempre nas listas de artistas mais tocados nas rádios de todo planeta. Ganhou sete Grammy Awards, um Globo de Ouro e um Oscar. Praticamente fundou o gênero videoclipe ao lado de outros astros da época, como Michael Jackson e Madonna.

Um gigante

Em todas as suas apresentações, como que para confirmar a reputação atribuída pela revista Rolling Stone, sua guitarra estava presente. Prince se agigantava com solos carregados de melodia e sentimento, com as performances de dança e com sua presença vocal. No alto dos seus 1,57m de altura, ele brilhava tocando seu som, um híbrido entre R&B, jazz, rock, pop e funk.

Em 1993, por uma briga judicial com sua gravadora, mudou seu nome para um símbolo impronunciável –  Prince logo.svg – que é a junção dos símbolos do sexo masculino e feminino. Neste período, que durou até o ano 2000, ele preferia ser chamado de “artista anteriormente conhecido como Prince”, ou simplesmente como “o artista”.

Superbowl

O tradicional evento que acontece no intervalo da final da NFL recebeu Prince em 2007. Esse show é considerado um dos maiores da história do torneio:



Morte

Uma semana após ser hospitalizado, por causas que divergem na mídia – sintomas de gripe ou overdose – em 21 de abril de 2016, Prince faleceu. Segundo relato de fãs, durante a semana, ele foi visto diversas vezes comprando medicamentos em farmácias da cidade. As autoridades afirmam que, por volta das 9h40, receberam um chamado de socorro médico, pois o artista havia sido encontrado desacordado no elevador da sua casa.

Após a sua última apresentação, no dia 14 de abril, Prince passou mal dentro do seu avião particular, que fez um pouso de emergência para que ele fosse atendido.

Adeus

A música perde mais um grande ícone, mas continuaremos seguindo o som do Prince. Curtam o seu último trabalho:



  
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domingo, 27 de março de 2016

The Cure, rock alternativo de sucesso na década de 80



Quando fui convidado para escrever na categoria “Rebobinando”, logo veio à mente, além de muitas músicas consideradas “das antigas”, a lembrança de infância que tenho das fitas k7. Deve ser um termo estranho para boa parte dos nossos leitores e, por isso, acho melhor, antes de tudo, explicar o ato de rebobinar: rebobinar significa, tecnicamente, retroceder, por a fita magnética em seu estado inicial – para assim – poder escutar novamente a sequência de músicas gravadas. Poeticamente, lembro que a limitação desses equipamentos fazia do rebobinar um ato de amor pela canção. Você voltava a fita por querer ouvir novamente uma música que agradou. É o que me proponho aqui, rebobinar boas músicas.

Claro! Eu não poderia estrear no “Rebobinando” sem falar de algo que ouvi nessa plataforma ultrapassada. Não lembro como essa fita chegou às minhas mãos, talvez fosse da minha mãe, talvez tenha sido produto de alguma das lojinhas de CDs usados que havia em João Pessoa no início dos anos 2000. Sei que entre a primeira faixa, “Open”, e a última, “End”, cada canção foi trilha da minha vida colegial.

A sequência “Friday I’m In Love”, “Trust” e “A Letter to Elise” é, de longe, a seção mais desgastada dessa tape. Sim! A fita desgastava, perdia magnetismo, apagava com o mau uso ou com o uso excessivo. A k7 dos Mamonas Assassinas é uma boa prova disso, mas falarei dela em outro texto.

Particularmente, “Wish”, é um dos melhores álbuns de estúdio do The Cure. As canções, quase todas compostas por Robert Smith, são um mergulho em um universo melancólico e esperançoso. Quase bipolaridade. Muito aguardado pelos fãs da época, perdido na estranheza da década de 1990 é, para muitos, como o último insight do The Cure da década de 1980, começando após ele a nova fase da banda.

Um álbum recheado com dobras de guitarras, bons sintetizadores e o arranjo vocal inconfundível do Robert.

Rebobina aí também:





Texto publicado no portal Segue o Som