Meio-dia. O suor desce na testa do artista, leva
embora a maquiagem que deve ter sido feita em casa. O sol desmancha muito mais
do que a tinta, enruga o rosto. Concentrado, carrega um semblante atento sob a
máscara do sorriso circense. O traço é latino, quase jogador de futebol de
seleção argentina, suas roupas são de palhaço pobre, mas a postura é de
trapezista. Uma luta para não deixar sua essência cair no asfalto.
Malabar longe da lona. Seu picadeiro é a faixa destinada
aos que atravessam a rua sem perceber o espetáculo que acontece no grande circo
da realidade. Seu número, talvez ensaiado sem espelho, tem a atenção dividida
com panfletos de promoções imperdíveis e outros entes que apenas pedem
dinheiro.
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