quinta-feira, 2 de abril de 2009

Longe de Casa [Campina Grande-PB]

No ar, um cheiro de amaciante industrial misturado com desinfetante de banheiro. Bom! Pelo menos não é o temeroso odor de mofo ou sujeiras diversas.

Penso na quantidade pessoas que já utilizaram aquele velho telefone bege, dotado de um longo fio preto em espiral. Serviços de quarto, reclamações, ligações para a família... Logo imagino frases como: “eu te amo e estou com saudades” e outras: “não tem volta!” De tudo um pouco. Tão surrado também está o adesivo com os ramais internos dos serviços prestados que está colado no “vintage” aparelho telefônico. [lembro: Preciso ligar para a lavanderia e pedir para passarem minhas camisas!]

A contrariedade do banho aquecido e do chão gelado me faz pensar em tomar mais vitamina C, para tentar prevenir uma possível gripe não esperada. Saio, do vapor e da água quente do banheiro, direto para o chão gelado e cobertores frios pelo ar-condicionado.

Pior é a indecisão: sair pra jantar ou pedir um suculento sanduíche de queijo com uma jarra de suco de laranja (pra começar a prevenção!)? Concluo: melhor sair pra conhecer um pouco mais a cidade.

De volta ao “lugar comum, onde qualquer um se esconde”, o frigobar parece ter uma mensagem subliminar no seu designer que nos estimula ao consumo! Ta, já entendi: pego uma garrafa de água mineral com gás. Se não quer consumir, não frequente hotéis.

A porta da varanda diz com um cartaz artisticamente bem elaborado: “Favor, para sua própria segurança, não deixe a porta da varanda aberta. Atenciosamente, a Direção.”. Poxa! E se eu quiser deixá-la aberta, o hotel não se responsabiliza por meus pertences? [Não tenho noção alguma sobre direito do consumidor no ramo de prestação de serviços]. Melhor atender ao pedido e deixar a porta fechada.

Porta bem fechada; a garrafa de água mineral com gás, já sem gás e sem água; as camisas já foram para a lavanderia, retornam amanhã. Sem fome. Sem sono. No telefone não tem o número do serviço “conversa aleatória”. A tv com seus setenta, oitenta canais, não prende minha atenção. Acordarei cedo, mas não custa passear pelo hotel antes de dormir.

Ao tentar dormir, lembro de uma velha música dos Engenheiros do Hawaii:

“Não tenho estado muito em casa ultimamente, nem me lembro quanto tempo faz... Aprendi a não olhar pra trás. Eu conto as horas que passam, eu conto estrelas no céu, na solidão das noites sem graça nos quartos de hotel. Como se chama essa cidade? Como se chama atenção? De uma cidade que dorme enquanto a gente, infelizmente, não? Bobeiras da noite, noites inteiras pensando bobagens, bebendo besteiras, sem companhia, sem companheira, nos quartos de hotel. Amanhã numa cidade diferente, não haverá diferenças no ar. As noites passarão do mesmo jeito, as estrelas estarão no mesmo lugar.”

Essas são algumas das minhas constatações solitárias em quarto de hotéis. Há quem diga que viajar a trabalho não é viajar e sim trabalhar. Mas o trabalho dignifica o homem (frase feita, apenas essa!) e viajar trabalhando para mim é o útil somado ao agradável. Por isso, essa postagem vai para o marcador “Sobre viagens”.

Nenhum comentário: